quinta-feira, 14 de março de 2024

Voltando pra casa...

    



    Já faz mais de um mês que fui devidamente empossado como professor estadual de Língua Portuguesa e Literatura, e já há um mês que devidamente atuo nestas disciplinas com turmas de ensino fundamental e médio. Atuo como professor de língua inglesa desde 2016 então não posso dizer que a sala de aula seja exatamente uma novidade para mim, mas a verdade é que sinto que seja isso mesmo, uma novidade. Por boa parte deste tempo fiquei limitado a trabalhar apenas com língua inglesa e seguindo planos de aula engessados e além disso atuava sem ter o meu diploma de licenciatura em Letras, o que sempre me deu uma sensação de não estar no lugar certo, embora sempre estivesse seguro de minhas habilidades - o velho (e nada bom) impostor dentro de mim sempre acha uma maneira de dar as caras. Por isso não escrevo a palavra devidamente à toa: eu devia esta formação acadêmica e esta aprovação em concurso à uma parte de mim que depositou muita energia em um sonho antigo, em uma paixão por livros e educação que é mais fácil de viver do que de explicar.

    Essas semanas têm passado muito rápido e estão sendo muito intensas, mas ainda consigo apreciá-las. Depois de dezessete anos estou voltando à escola em que conclui meu ensino médio e boa parte do meu ensino fundamental, o I.E. Polivalente. As salas e corredores são as mesmas, algumas das professoras e professores também são os mesmos e por vezes até posso sentir como era conviver com esta escola e seu espírito lá pelos anos 2000: quinze minutos de intervalo, sem a presença opressora que os aparelhos móveis possuem hoje, pareciam durar muito mais. Dava tempo de comer um pastel inteiro, ler O Senhor dos Aneis e ainda conversar com quem estivesse perto.  

    Antes que comece a ficar piegas eu declaro: sei muito bem que as coisas não são mais as mesmas. Não são apenas os alunos que mudaram, ou os tempos, ou eu mesmo - embora não saiba precisar minhas mudanças. Há algo diferente nas escolas, uma camada que se sobrepõe à sensação de dever e que parece lançar um verniz morno sobre tudo. Algo a ver com resignação, falta de esperança, talvez. Todos estamos ali como que para cumprir algo que em algum momento consideramos e entendemos como importante, mas que ao longo do anos, de maneira muito lenta e quase invisível, acabou sendo solapado pelo que me parecem preocupações que apenas se vestem de urgentes, como que para nos causar um medo. Falam sobre trabalho, reservas e oportunidades, sempre de forma apressada, mas parecem apenas trocar alguns problemas de lugares, até mesmo trocar muitos problemas por outros. Enquanto fazemos isso esquecemos do que é fundamental e o que nos fez olhar para a educação em primeiro lugar. 

    Mas talvez seja só impressão minha mesmo. Talvez seja só algo do tempo. Sei lá.

    O que tenho por certo é que o entusiasmo ainda não se apagou em mim. Não sou presunçoso a ponto de pensar que esse entusiasmo jamais vai morrer em mim, mas está aqui e ainda rega algumas sementes de esperança.

    Sei que fomentar algumas esperanças pode muito bem ser um gesto louco e idiota, mas aprendi que mesmo assim devo ser compassivo e astuto. Talvez ainda mais compassivo já que se trata de mim mesmo. 

A sensação é de voltar pra casa e tudo que quero me abrigar e fazer o que sinto que deve ser feito. 

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