quinta-feira, 27 de abril de 2023

Blogar talvez seja a melhor alternativa...

        Não se trata de um apelo nostálgico, ainda que seja agradável rememorar aquele tempo em que uma das melhores coisas a se fazer na internet era ler, reler e descobrir diversos blogs que existiam aos montes por aí. Tampouco falo isso como alguma forma de reformular uma estratégia de comunicação para fins profissionais ou de propaganda. Sei que muita gente ainda tenta fazer isso com os blogs, mas isso nada me importa. Eu não tenho nenhum interesse em usá-los como uma ferramenta profissional de divulgação... tenho pouca experiência sobre isso e na verdade o assunto me é desagradável, não sirvo para publicitário. Minha formação é como jornalista e professor, portanto a comunicação é algo que me interessa muito apesar de não ter nenhum tino publicitário. Se digo que blogar talvez seja a melhor alternativa, me refiro às redes sociais. 

        Tem certo tempo que procuro observar o meu relacionamento com as redes que eu uso. O fruto dessa observação é um certo fastio, pois percebo que grande parte das minhas ações nestas redes respondem a um padrão de comportamento que buscam por um entretenimento rápido e muito superficial e quase nunca tem a ver com uma verdadeira aproximação com as outras pessoas. Isto é algo que naturalmente diz respeito a mim, mas não é como se isso fosse incomum: percebo que algo semelhante acontece com familiares e amigos também e poderia apostar que existem alguns estudos por aí que apontam na mesma direção, mesmo que não leia a respeito há muito tempo. 

        Essa minha análise não é absoluta: nem todo conteúdo que acesso cai nessa categorização de entretenimento superficial. No entanto, esse é o tipo dominante de conteúdo e aquilo que possui uma natureza mais valiosa e consistente acaba sendo de certa forma contaminado pela linguagem e pelo tom de tudo que o cerca. É como uma moeda de ouro em uma montanha de estrume, talvez o esforço em se sujar não valha tanto a pena. Ou então, um soneto de Vinícius de Moraes em um festival de Death Metal: o soneto mantém seu valor (o Death Metal também), mas o ambiente eventualmente vai imprimir sua força. Minhas analogias são curiosas...

        Escrever e manter um blog sempre foi algo muito interessante para mim desde que descobri a respeito de blogs. Ao longo dos anos fiz e apaguei vários deles: isso se deu principalmente devido a problemas pessoais com a minha escrita, mas posso perceber que a principal razão para não manter um blog foi porque sempre há duas auras predominantes em espaços pessoais na internet: uma de profissionalismo e outra de fama. Talvez isso não tenha sido verdade com Orkut e MySpace (se sentindo velho já?), afinal naquela época todos nós passávamos vergonha juntos, mas do F@ceb00k para cá percebo que muitas pessoas querem demostrar um certo profissionalismo ou passar alguma ideia sobre seus estilos de vida que resulte em alguma fama. Não falo isso de longe, também me vi repetindo o mesmo comportamento muitas vezes, mas isso tem ficado cada vez mais insosso e cansativo. Também reconheço que algumas pessoas usam as redes apenas para fins profissionais e nada mais (guardo um sincero respeito por essas pessoas). 

        O problema que vejo nisso tudo é que não estamos mais nos conectando tão bem como fazíamos. Estamos repetindo comportamentos nas redes que pouco ou nada tem a ver com a gente, isso quando não estamos apenas reproduzindo discursos e conteúdos que nem mesmo passam verdadeiramente por nós: compartilhamos propagandas disfarçadas de memes e piadas, ou então tópicos polêmicos que ficaram por pouquíssimo tempo sob nossa atenção (e muito menos tempo sob nossa crítica), sem contar as inúmeras notícias falsas, compartilhadas intencionalmente ou não. 

       Mesmo que esteja me repetindo aqui acho que é importante olhar com carinho para isso. Reforçando o que penso quero deixar aqui o link para um artigo de Monique Judge no The Verge (em inglês). Da postagem dela destaco o seguinte: 


Os melhores blogs nos davam um vislumbre da vida de alguém que “conhecíamos” online. Uma boa capacidade de contar histórias, unida a uma discussão viva depois disso, nos mantinha interessados a buscar mais a respeito, dia após dia.

As pessoas construíam comunidades em torno de seus blogs favoritos e isso era algo bom. Você conseguia encontrar a sua gente, construir sua tribo e discutir as cosas que coletivamente vocês achavam importantes.

Agora estamos em uma era em que as pessoas chegam até a internet para serem as piores versões de si mesmas, e isto é algo horrível de ser ver. 


        O que Monique fala soa para mim como um afago de quem se importa em ler outras pessoas, mas também acho que é algo importante para todos. Nossa relações com as redes sociais são problemáticas e isto só não está evidente para quem está viciado nelas ("viciado" é um termo que uso com cautela, mas aqui acho que o termo se aplica). Precisamos rever a maneira como estamos nos comunicando se realmente queremos uma sociedade em que as pessoas são mais próximas e agradáveis umas com as outras.

         Eu acho que o blog pessoal pode ser um bom caminho. Entendo ele como um espaço de expressão em que posso ter maior controle sobre o que está sendo exposto. Não é a mesma coisa com postagens em outras redes como Tw1tt3r e F@ceb00k: estas postagens geralmente chegam associadas com outras coisas, em momentos diferentes e com um certo apelo para a pressa e para o movimento. No blog você se expressa com mais liberdade e mais calma, e penso que tudo se resume a esse potencial de expressão: você se esmera e coloca tudo o que tem vontade de dizer e aquelas pessoas que leem você até o fim vão acessar exatamente aquilo e nada mais, então vocês podem dar início a um diálogo mais verdadeiro e profundo. 

        Hoje, graças à terapia (e talvez ao Zazen), fiz as pazes com minha escrita e ela cumpre uma papel muito importante para mim: me sinto tentado em dizer que escrever é terapêutico, mas talvez seja apenas algo que gosto muito de fazer. Escrevo este blog, e outro que comecei esta semana, principalmente pelo prazer que isso me proporciona, mas reconheço que esta é uma forma genuína de expressão e diálogo, por isso achei importante escrever a respeito disso. 

        Seria interessante ter as pessoas prestando mais atenção, dando alguns passos para trás e olhando para a nossa comunicação com mais carinho. Até lá vou escrevendo, mesmo que pareça estar sozinho. 

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